A Incompetência Mantém o Tabu

Como torcedores, sempre buscamos uma maneira para explicar as derrotas. Segundo Nelson Rodrigues em uma de suas crônicas, o torcedor é uma das potências do futebol brasileiro. Parece indefeso e desarmado, mas possui uma arma irresistível: o palpite errado. De fato, sempre estamos cravando os motivos para a derrota, as substituições feitas de maneira equivocada, a escalação inadequada, a postura da equipe. E essa é uma das belezas do futebol.

Cruzeiro não conseguiu quebrar o tabu na Arena Corinthians. Foto: Sérgio Barzagui


Insistindo nisso, vamos à partida da última quarta. Confesso que não consegui assistir o jogo ao vivo. No entanto, na quinta fui premiado com o videotape da partida por completo na TV fechada, o que me deu subsídios para escrever este texto. Faltou competência à equipe celeste, o que manteve o tabu de nunca ter vencido em Itaquera. A derrota trouxe alguns momentos positivos, mas também fez questão de escancarar pontos negativos que se manifestam há um tempo. 

No início do jogo, de maneira surpreendente, a equipe celeste pressionou a defesa do Corinthians na saída de bola, e teve grande oportunidade com Barcos, após uma das únicas boas jogadas de Thiago Neves na partida. Na continuação da primeira metade, o escrete celeste se mostrava bem organizado taticamente, principalmente na defesa. Formou um posicionamento defensivo com um 4-1-4-1, sendo Henrique o primeiro volante, a linha de quatro meias com Rafinha pela esquerda, Thiago Neves e Lucas Silva pelo meio, Bruno Silva pela direita, e o Pirata no ataque. Nesta composição, o Cruzeiro anulava o ataque corinthiano, que pouco criou no primeiro tempo. Ofensivamente, o Cruzeiro utilizava a habitual 4-2-3-1. Entretanto, o time azul não conseguia criar boas jogadas ofensivas, já que os meio-campistas não conseguiam finalizar bem as tentativas a partir do último terço do campo. Mesmo assim, no fim da primeira etapa, o Cruzeiro teve duas boas chances com Lucas Romero e Leo, mas não aproveitou.

Já na segunda etapa, o Corinthians aumentou sua intensidade, mas seguia sem criar chances claras de gol. O Cruzeiro mudou seu esquema tático, defensivamente. Com a entrada de Robinho no lugar de Lucas Silva, a equipe celeste passou a defender no 4-4-2. Bruno Silva passou a exercer a função de segundo volante. Ofensivamente, os azuis permaneceram no 4-2-3-1. Entretanto, o "Megamente" não parece ter assimilado muito bem as movimentações e posicionamento referentes àquela posição, se mostrando um pouco perdido em campo. 

O primeiro gol alvinegro se deu em um raro lance de falta de atenção e certa desorganização das linhas de marcação celestes. Repare no vídeo abaixo, principalmente a partir dos 12 segundos:





Egídio marcava um jogador corinthiano no lado esquerdo da defesa, Leo se posicionou à frente de Angel Romero, até que Rafinha chegou na marcação e foi driblado para trás. O lateral corinthiano estava completamente sozinho pela esquerda de seu ataque, já que Lucas Romero se preocupava com a entrada da área e Robinho marcava outro jogador mais no meio do campo. Após inversão de jogo para o lateral Danilo, a marcação do Cruzeiro se balanceou, e Romero penetrou justamente entre o zagueiro Leo e o lateral Egídio, com enorme espaço, completamente livre de marcação. Reparem que, no momento da inversão, Angel Romero estava cercado por três marcadores, e nenhum deles, nem Egídio, o acompanhou. A foto a seguir mostra como se deram as movimentações após o lateral Danilo receber o passe:

Print retirado do vídeo do Youtube.


Em seguida, Arrascaeta substituiu Bruno Silva, numa tentativa de tornar o Cruzeiro mais ofensivo. Logo na primeira chance, teve uma boa oportunidade de marcar, porém o zagueiro da equipe paulista barrou a finalização de dentro da área, após boa penetração de Robinho. Em seguida, Barcos perdeu gol incrível, após cruzamento perfeito, novamente de Robinho. Mano Menezes sacou, por fim, Thiago Neves, acionando David.

Cerca de 7 minutos depois, o Corinthians conseguiu uma falta perigosa. Vale a pena voltar um pouco no lance. Era uma bola dominada pela defesa celeste, Manoel recuou para o goleiro Fábio, que rifou mal a bola para o meio de campo. A equipe paulista ficou com a bola e chegou com um número razoável de jogadores, até que ocorreu a falta. Coube a Jadson, reserva em má fase até o clássico com o São Paulo na rodada anterior, cobrar na junção entre a trave e o travessão. Manoel falhou bisonhamente no tempo de bola e permitiu que Angel Romero alcançasse a bola e aumentasse o placar, com o gol vazio.

Já nos minutos finais, Barcos teve outra grande oportunidade, cortada pelo zagueiro corinthiano em cima da linha. David também teve boa chance de cabeça, mas Cássio mais uma vez apareceu bem. 

Em suma, as oportunidades cruzeirenses foram mais claras e em maior número que as corinthianas. É importante ressaltar que o Cruzeiro poupou jogadores vitais no seu estilo de jogo, como Dedé, Arrascaeta e Robinho. O nível técnico cai muito com Bruno Silva e Rafinha, e Manoel vive má fase há certo tempo. Outro que mais uma vez deve ser destacado é Thiago Neves. Segundo números do site Footstats, Robinho jogou quase meia hora a menos que nosso camisa 30, e participou mais ativamente do jogo. Ao assistir os jogos no Mineirão, percebi que Neves busca se movimentar, tem corrido bastante, parece bem fisicamente, mas o nível técnico caiu demais. É difícil encontrar a razão para uma queda tão brusca, afinal são várias variáveis que podem influenciar, e como observadores de fora, não temos acesso a todas. Só nos resta cobrar da maneira que sempre cobramos, para que a comissão técnica e a diretoria tentem descobrir o que está de fato acontecendo com nosso craque.

Ainda espero uma resposta do jogador David, que pouco contribuiu nesta partida. Espero que Arrascaeta e Robinho mantenham o nível de suas apresentações. Barcos tem contribuído bastante, mesmo com pouquíssimo tempo de clube e baixo entrosamento. Me arrisco a dizer que o argentino tem incomodado mais as defesas adversárias que Sassá e até Raniel.

Foto: Bruno Riganti / Framephoto / Estadão Conteúdo


Por fim, acredito que não é uma derrota desesperadora, mas um pouco alarmante. Assim como Mano disse em entrevista, o Cruzeiro tem tomado gols que não poderia tomar. Em jogos contra adversários perigosos, como o Santos e o Flamengo nas competições mata-mata, estes erros podem custar muito caro. Levamos gols nos últimos 9 jogos, para adversários como Atlético-PR, América-MG, Paraná, Vasco e Chapecoense, por exemplo, que ocupam a parte de baixo da tabela ou possuem ataques deficientes na temporada. Precisamos retomar o bom momento defensivo para aumentarmos nossas chances na Copa do Brasil e Libertadores. 

O Cruzeiro volta a campo no próximo domingo, às 16h, contra o São Paulo, no Mineirão. É difícil realizar previsões, visto que existe a chance de poupar jogadores pelo lado azul. Em contrapartida, o São Paulo disputa apenas a Sulamericana, e a prioridade parece ser o Campeonato Brasileiro, no qual vive grande momento.

Saudações celestes a todos!

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