Análise: Brasil 2x0 Costa Rica – Copa do Mundo


O jogo mostrou muitos fatos além do choro de Neymar e dos gols da seleção Canarinho (ainda não tão Pistola nesta Copa).

Foto: Getty Images


Ao ligar a TV, abrir os jornais e acompanhar a repercussão da vitória do Brasil contra a Costa Rica, me deparei com um grande foco dos jornalistas, leitores e espectadores no choro de Neymar. Este texto terá um foco diferente, embora eu ainda vá expressar a minha opinião sobre o camisa 10 mais adiante. Com base em dados quantitativos e qualitativos fornecidos pelo site Footstats e pelo site oficial da FIFA, elaborei uma análise de alguns pontos individuais e coletivos observados, que julgo serem importantes para a sequência da nossa seleção na competição.

Inicialmente, uma visão geral. O Brasil teve 70% de posse de bola, contra 30% da Costa Rica. Foram 20 finalizações brasileiras (11 certas e 9 erradas), contra 3 finalizações equivocadas da seleção da América Central. O Brasil teve ainda 685 passes (33 errados), 42 cruzamentos (pasmem, 34 errados) e 14 lançamentos. Os costa-riquenhos, por sua vez, trocaram 132 passes (errando 34), cruzaram 8 bolas para a área (7 errados) e lançaram incríveis 61 vezes.

Estes números nos mostram alguns pontos positivos. Um deles é o fato de o Brasil ter dado poucos chutões e ter mantido a posse de bola com passes curtos e alta porcentagem de acerto. Além disso, a seleção canarinho criou um bom número de oportunidades, mesmo com uma postura muito defensiva da Costa Rica (em muitos momentos com uma linha de 5 zagueiros e outra de 4 meias na marcação), e praticamente não deixou o adversário criar.

Por outro lado, os números também nos mostram pontos a melhorar. A pouca eficácia nas chegadas ao ataque, com apenas 2 gols em 20 finalizações, bem como o altíssimo número de cruzamentos errados. Ora, nossos centroavantes são Gabriel Jesus (1,75 m) e Roberto Firmino (1,80 m). Será que cruzamentos excessivos são mesmo a grande solução, em um time com atacantes relativamente baixos, e meias extremamente habilidosos e rápidos?

Momento do jogo em que é possível observar as linhas de marcação da Costa Rica. Fonte: YouTube.

Entrando no âmbito individual, os números escancaram que, defensivamente, o Brasil não teve muito trabalho. A Costa Rica chegou com perigo nos primeiros 25 minutos, mas pecou nas poucas finalizações que teve. Alisson não fez defesas, mas teve participação importante na cobertura dos zagueiros em duas oportunidades no segundo tempo. Thiago Silva e Miranda desarmaram 1 bola cada, trocaram muitos passes e ocuparam uma faixa avançada do campo, próxima ao meio-campo, de acordo com o mapa de calor de cada um. 

Pensando em nossos laterais, Fagner entrou numa "fria", após 2 meses sem jogar, mas não comprometeu. Apesar de ter ocupado uma faixa avançada no campo, deu apenas 6 cruzamentos e 1 passe para finalização. Isso mostra que houve pouca presença na linha de fundo, para apoiar Willian e criar tabelas. Por outro lado, Marcelo subiu mais ao ataque, de acordo com seu mapa de calor, trocou 99 passes, finalizou 2 vezes e errou 6 dos 7 cruzamentos que tentou. Quando o M12 acertou, saiu o lance do primeiro gol. Percebe-se que o assombroso número de cruzamentos não teve alta participação dos laterais.

Passando para a meiúca, Casemiro teve maior participação ofensiva, com 78 passes e 2 finalizações. Já Paulinho, ocupou na maior parte do tempo uma faixa intermediária pela direita, e trocou metade dos passes de Casemiro. Para quem assistiu ao jogo, foi possível perceber que Paulinho pouco apareceu no primeiro tempo, mas na segunda metade deu três passes para os companheiros que poderiam ter culminado em gol. Fernandinho ficou pouquíssimo tempo em campo e por isso não apresentou números dignos de análise.

Parafraseando nosso treinador Tite, por merecimento, reservamos um parágrafo apenas para Coutinho. De acordo com análises feitas pelo site oficial da FIFA, pelo segundo jogo seguido, nosso camisa 11 foi o que mais correu na partida, com 11,331 km percorridos. Além disso, a distribuição de passes recebidos e efetuados se deu em praticamente todos os setores do campo, embora muito concentrados no lado esquerdo (vide ilustrações abaixo).

Phillipe Coutinho foi o que mais correu no jogo, seguido por Casemiro.    Fonte: https://resources.fifa.com/image/upload/eng-25-0622-bra-crc-bra-teamstatistics-pdf-2965060.pdf?cloudid=lgmt0iu1wgczavsogvk9

Distribuição de passes distribuídos, recebidos, e mapa de calor - Phillipe Coutinho. Fonte: https://resources.fifa.com/image/upload/eng-25-0622-bra-crc-bra-playerstatistics-pdf-2965042.pdf?cloudid=x4n0mg61mzswxa8twgax

Chegando ao ataque, começarei por Willian. O jogador do Chelsea pouco contribuiu, errou a finalização e os cruzamentos que tentou, e não foi efetivo nas jogadas individuais. Pessoalmente, sou fã do futebol de Willian. Penso que ele precisa de um companheiro por perto para dividir a atenção da marcação, tal como tem Neymar pelo lado esquerdo com Coutinho e Marcelo. Fagner e Danilo não deram o apoio necessário, tampouco Paulinho enquanto Willian esteve em campo. 

No intervalo, Douglas Costa entrou pela direita, apareceu mais, dando passes para finalizações e uma assistência, buscando jogadas em velocidade e jogadas pelo fundo. Deu mais vida ao time, ajudado pelo crescimento de Paulinho no jogo e, posteriormente, pela entrada de Firmino. Este último voltou para buscar o jogo e auxiliar a criação de jogadas, tal como faz no Liverpool, e por isso teve poucas oportunidades de finalização. Como base de comparação, Gabriel Jesus deu apenas 4 passes a mais em relação à Firmino, jogando aproximadamente 60 minutos a mais. O camisa 9 conseguiu 2 finalizações, acertando a trave em uma delas. Sofreu com o ferrolho costa-riquenho, mas mesmo assim conseguiu encontrar espaço para dar a assistência no primeiro gol.

Por último, deixamos o tal Neymar, que todos tanto falam. Os números mostram que nosso camisa 10 participou muito do jogo, para o bem e para o mal. Foi o responsável por mais de um terço dos cruzamentos, errando 13 dos 16 feitos. Finalizou 5 vezes e trocou 49 passes. Mas um número me chamou à atenção. Neymar perdeu a posse da bola 16 vezes, sendo disparadamente o líder neste quesito. Como prometido, vou dar a minha opinião. Neymar é um craque. A habilidade e os lances que ele se mostrou capaz de fazer são magníficos, mas falta o jogo coletivo. O jogador do PSG insiste em realizar demasiadas jogadas individuais, mesmo quando não é a melhor decisão. E em lances cruciais, como o do "quase pênalti", ou a oportunidade que teve de frente com o goleiro Navas, quando pode fazer o simples, tenta fazer o espetacular, e acaba se dando mal. Quanto ao choro, entendo que a cobrança e a pressão em cima de Neymar são surreais. No entanto, se houvesse mais humildade e simplicidade no modo de jogar, o famoso "feijão com arroz", certamente as coisas seriam mais fáceis.

Como perspectiva para os próximos jogos, não vejo motivo para desespero. Penso que o Brasil jogou abaixo do que pode jogar até aqui, e mesmo assim não perdeu. Vejo um time consistente que deve buscar equilibrar mais as ações, trazendo o jogo também para o lado direito, para aflorar o futebol de Willian e Paulinho, que estão devendo nesta Copa.

Espero que tenham gostado, desejo vê-los em breve!

Comentários

  1. Parabéns pela análise. É muito bom ter essa visão fora da mídia esportiva. O que mais me agradou dentro da análise, foi ter atrelado uma visão de torcedor e dados quantitativos da partida que ajudam a sustentar toda a análise. Acho que Coutinho naturalmente vem assumindo o papel de protagonista na seleção e o time só tem a ganhar com isso. O jogo coletivo de trocas de passes dele pode fazer com que outros jogadores cresçam mais dentro do time e tornem o Brasil mais forte. Novamente parabéns pelo trabalho feito e espero por novas analises

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pela participação, Talles! Certamente Coutinho vem crescendo, participou diretamente de 3 dos 5 gols na Copa. Espero que Neymar e Willian cresçam também!

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Até quando, Cruzeiro?

Invadimos a Praia!